25.11.09

Desigualdade de gênero, vulnerabilidade e religião

O Brasil também é o maior país católico do mundo - 74% da população, segundo o Censo 2000/IBGE , declaram-se Católicos/as, ou aproximadamente 138 milhões de pessoas - e é também o maior país pentecostal do mundo - 24 milhões de brasileiros se declaram pentecostais, segundo a pesquisa divulgada pelo World Christian Database. Vivemos atualmente um recrudescimento dos fundamentalismos religiosos, em que o conservadorismo moral, a rigidez de costumes e a cristalização da desigualdade de gênero tornam as mulheres ainda mais vulneráveis à violência.

A religião age fortemente pela subjetividade e no plano simbólico. O modelo predominante - o da família patriarcal, da relação heterossexual, da chefia masculina, da submissão de filhos e da mulher ao pai e marido - está impregnado em grande parte por valores advindos das religiões. A cultura brasileira é fortemente influenciada pela visão cristã do mundo e, por conseqüência, do papel que mulheres e homens desempenham nela. As religiões patriarcais têm legitimado ideologicamente a subserviência das mulheres, associando-as ao mal, ao desviante, à desordem, à fraqueza moral. Isso significa que, culturalmente, as mulheres estão à mercê da punição naturalizada. De fato, recentemente assistimos estarrecidas/os centenas de alunos e alunas de uma universidade particular perseguirem e humilharem uma colega por considerarem seus trajes e seu comportamento inadequados.

É assim que a violência se instala na cultura, pela associação mulher-mal, justificando sua desqualificação e exclusão dos espaços de poder e decisões na sociedade. Outro valor bastante presente no ideário cristão é de que o sacrifício é um caminho para a salvação, o que ajuda a manter as mulheres submetidas à violência. A idéia de que "essa é a vontade de Deus" leva à naturalização da violência e a sua reprodução. É importante que as pessoas não percam a dimensão positiva da religião e encontrem nela forças para enfrentar a violência, mas é preciso também mostrar o ideário religioso de forma crítica, rejeitando os conceitos que ajudam a provocar desigualdade, injustiça e violência.

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